terça-feira, 16 de dezembro de 2025

80 mil pessoas rezaram um 'Terço vivo'

80 mil pessoas rezaram um 'Terço vivo' em Melbourne, na Austrália. O 'Melbourne Cricket Ground' ficou repleto mas dessa vez não havia qualquer evento desportivo, mas sim a oração que Nossa Senhora pediu insistentemente que se rezasse. Foi há mais de 74 anos atrás, em Novembro de 1951.


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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Novena de Natal

Textos da Novena escritos por Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja

1º Dia – 16 de Dezembro. Jesus Menino consente em ser nosso Redentor

Muitos cristãos costumam neste tempo armar um presépio como representação do Nascimento de Jesus Cristo; mas bem poucos lembram de preparar, com actos de amor, o seu coração afim de que o divino Menino nele possa repousar. Do número destes também nós queremos ser. Por isso, afim de excitar-nos, desde o primeiro dia da Novena, a pagar com o nosso amor o amor de Jesus Cristo, consideremos o amor que nos mostrou, incumbindo-se, desde o primeiro instante da sua conceição, de satisfazer por nós à divina justiça.

I. Considera como o Pai Eterno disse a Jesus Menino, no instante da sua Encarnação, estas palavras: Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea (1) – Eu estabeleci-te para luz das gentes, afim de salvá-las. Meu Filho, eu te dei ao mundo para luz e vida das nações, afim de que lhes alcances a salvação, que eu estimo tanto como se fosse a minha própria. Mister é, pois, que te consumas todo inteiro, para o bem dos homens – Totus illi datus, totus in suos usus impenderis (2). Mister é que desde o nascer sofras extrema pobreza, afim de que o homem se faça rico. Mister é que sejas vendido como um escravo, para impetrares ao homem a sua liberdade; que, como um escravo, sejas açoitado e crucificado, afim de pagares à minha justiça o que o homem lhe deve; mister é que dês o teu sangue e a tua vida, afim de livrares o homem da morte eterna. Em uma palavra, sabe que não te pertences mais a ti mesmo, senão aos homens. assim, meu dilecto Filho, o homem render-se-á ao meu amor; será todo meu, vendo que eu lhe dei o meu Unigénito, sem reserva alguma, e que nada mais me resta para lhe dar. Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret (3) Ó amor infinito, digno unicamente de um Deus infinito!

A semelhante proposta Jesus Menino não se entristece; antes, nela se compraz, aceita-a com amor e exulta: Exultavit ul gigas ad currendam viam (4) – Deu passos como gigante para correr o caminho. Desde o primeiro instante da sua Encarnação Jesus se dá todo ao homem, e abraça com alegria todas as dores e ignomínias que na terra teria de sofrer por amor dos homens.

Pondera aqui o Pai celestial, que manda o Seu Filho para ser nosso Redentor e medianeiro entre Deus e os homens, se obrigou, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto que prometeu receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfizesse por nós à justiça divina. Por outra parte o Verbo divino, tendo aceitado a incumbência do Pai, que no-lo deu enviando-o para nossa redenção, obrigou-se também a amar-nos, não em vista dos nossos merecimentos, mas para obedecer à vontade misericordiosa do Pai.

II. Meu amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doação faz adquirir o domínio, Vós sois meu, visto que vosso Pai Vos deu a mim; por mim é que nascestes, a mim é que fostes dado. Posso dizer, pois, com verdade: Iesus meus et omnia – Meu Jesus e meu tudo! Já que sois meu, é meu também tudo quanto é vosso. Assim m’o garante o vosso Apóstolo: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit? (5) – Como não nos deu também com ele todas as coisas? É meu o vosso sangue, são, meus os vossos merecimentos, são minhas as vossas graças, é meu o vosso paraíso. Se sois meu, quem jamais poderá separar-me de Vós? Assim dizia jubiloso Santo Antão Abade. Assim também quero dizer para o futuro. Somente por culpa minha posso perder-Vos e separar-me de Vós. Mas, ó meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora pesa-me de toda a minha alma e estou resolvido a antes perder a vida e tudo, do que a perder-Vos, ó Bem infinito e único Amor da minha alma.

Graças Vos dou, Pai Eterno, por me haverdes dado vosso Filho, me dou todo a Vós. Por amor desse mesmo Filho, aceita-me e prendei-me com laços de amor ao meu Redentor; mas prendei-me de tal maneira que eu também possa dizer: Quis me separabit a caritate Christi? (6) – Quem me separará do amor de Cristo? Que bem terrestre será ainda capaz de separar-me do meu Jesus? E Vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que eu também sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que é meu, como quiserdes. Será possível que eu recuse alguma coisa a um Deus que não me recusou seu sangue e sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me debaixo da vossa protecção. Não quero mais ser meu, quero ser todo do meu Senhor. Cuidai em fazer-me fiel; em vós confio.

Referências:
(1) Is 49, 6
(2) São Bernardo
(3) Jo 3, 16
(4) Sl 18, 6
(5) Rm 8, 32
(6) Rm 8, 35


2º Dia – 17 de Dezembro. Tristeza do Coração de Jesus no seio da Virgem Maria

Sumário. Tudo quanto Jesus Cristo padeceu no correr da sua vida, foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe; e Jesus aceitou tudo por nosso amor. Porém, naquela aceitação e na repressão da repugnância natural, ó Deus, que aflição devia experimentar o seu Coração! Se Jesus, embora inocente, desde princípio da vida começou a sofrer por nós, não é justo que nós, que somos pecadores, padeçamos alguma coisa por seu amor e em desconto dos nossos pecados?

I. Considera a grande amargura de que o coração de Jesus Menino devia sentir-se atormentado e oprimido no seio de Maria, quando no primeiro instante da encarnação o Pai Eterno lhe mostrou toda a série de desprezos, de dores e de angústias que no correr da sua vida deveria sofrer, afim de livrar os homens do seu estado de miséria – Eis o que ele falou pela boca do profeta Isaías: Mane erigit mihi aurem – Pela manhã (o Senhor) levanta-me o ouvido. Isto é: no primeiro instante da minha encarnação, o meu Pai fez-Me conhecer a Sua vontade, que eu levasse uma vida de sofrimentos para ser finalmente sacrificado na Cruz. Ego autem non contradico; corpus meum dedi percutientibus (1) – Eu não contradigo; entreguei o meu corpo aos que me feriam. Ó almas, aceitei tudo pela vossa salvação e desde então entreguei o meu corpo para receber os açoites, os pregos e a morte.

Pondera que tudo o que Jesus Cristo sofreu no correr da sua vida, e na sua Paixão, foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mãe. Jesus aceitou tudo com amor. Mas naquela aceitação, e na repressão de sua repugnância natural, ó Deus, que angústias e que aflição não devia experimentar o Coração inocente de Jesus! Desde então compreenderia bem quanto teria de sofrer, primeiro nascendo numa gruta fria, pousada de animais; em seguida, tendo de morar trinta anos desconhecido na loja de um simples oficial. Já então viu que os homens haviam de tratá-lo de ignorante, de escravo, de sedutor, de réu de morte, digno da mais infamante e dolorosa morte destinada aos celerados. Tudo isso o nosso amante Redentor aceitou-o cada instante, mas cada vez que renovava a aceitação, tornava a sofrer juntas todas as penas e todas as humilhações que depois deveria sofrer até à morte. E para quê? Para salvar-nos da morte eterna, a nós, miseráveis pecadores.

II. Ó meu amado Redentor, quanto Vos custou, desde a vossa primeira entrada neste mundo, tirar-me da miséria que tinha atraído sobre mim pelos meus pecados! Para me livrardes da escravidão do demónio, a quem de livre vontade me tinha vendido, Vós sujeitastes a ser tratado como o mais vil de todos os escravos. E eu, sabedor disso, tive ânimo de amargurar tantas vezes o vosso amabilíssimo Coração, que tanto me amou! Mas, já que Vós, que sois inocente e sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte tão penosas, aceito, por vosso amor, ó Jesus meu, toda a pena que me vier das vossas mãos. Aceito-a e abraço-a por vir daquelas mãos que um dia foram trespassadas, afim de livrar-me do inferno tantas vezes merecido pelos meus pecados. Ó meu Redentor, o amor que mostrastes em oferecer-Vos a sofrer tanto por mim, constrange-me demais a aceitar por vosso amor toda a pena, todo o desprezo. Ó meu Senhor, pelos vossos merecimentos dai-me o vosso santo amor; este tornar-me-á suaves e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Amo-Vos sobre todas as coisas, amo-Vos de todo o meu coração, amo-Vos mais que a mim mesmo.

Durante toda a vossa vida me tendes dado provas demasiadamente grandes do vosso afecto para comigo. Eu, ingrato, já tenho vivido tantos anos nesta terra e quais são as provas de amor que Vos mostrei? Fazei, ó meu Deus, que ao menos nos anos de vida que me restam, Vos dê alguma prova de meu amor. Não tenho coragem de comparecer na vossa presença, quando vierdes a julgar-me, tão pobre como agora me acho, sem ter feito alguma coisa por vosso amor. Mas, que posso fazer sem a vossa graça? Nada senão pedir-Vos que me socorrais, e este mesmo pedido ainda é uma graça da vossa parte. Jesus meu, socorrei-me pelos merecimentos de vossas penas e do sangue que por mim derramastes.

Maria Santíssima, recomendai-me a vosso Filho, peço-o pelo amor que lhe tendes. Lembrai-vos que sou uma daquelas ovelhas pelas quais o vosso Filho morreu.

Referências:
(1) Is 50, 4-6


3º Dia – 18 de Dezembro. Expectação do Parto da Virgem Maria

Sumário. Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido o seu divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia Jesus não quis antecipar o seu nascimento; quis ser semelhante aos outros e ficar oculto no seio materno em recolhimento e em preparação da sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição para nós, se a soubermos aproveitar.

I. Muito embora a divina Mãe reconhecesse perfeitamente a grande honra que lhe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes tesouros de graças que ia merecendo, dando abrigo ao seu Senhor, todavia foram tão grandes e tão veementes os seus desejos de ver o Salvador nascido, que em comparação deles pareciam frios os ardentes desejos dos Patriarcas e dos Profetas, que durante quatro mil anos fizeram violência ao Céu dizendo: Mitte quem missurus es (1) – Envia aquele que deves enviar. Esses desejos nasciam na Santíssima Virgem de um amor duplo. Em primeiro lugar amava com terníssimo afecto o seu divino Filho, e por isso desejava dar à luz para vê-lo, abraçá-lo e provar-lhe o seu amor, prestando-lhe toda a sorte de serviços. Demais, o coração da Virgem estava possuído de amor ardente para com o próximo. Por esta razão, apesar de prever o modo inumano de que os homens haviam de acolher e tratar Jesus Cristo, anelava pelo momento de manifestar ao mundo o seu Salvador, e de enriquecer o universo com aquele Bem supremo e com as graças infinitas que ele queria comunicar às nossas almas.

Ó divina Mãe, graças vos sejam dadas por terdes desejado tanto dar-nos o vosso Jesus! Por piedade dai-mo também a mim; fazei que, assim como nasceu corporalmente das vossas puríssimas entranhas, assim renasça espiritualmente pela graça em meu coração. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure comunicá-lo também ao próximo.

II. Mais ardente do que o desejo de Maria foi o de Jesus. Achando-se ainda no seio de Maria ansiava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Redenção do género humano e cumprir a sua missão conforme à vontade do seu Pai celestial. Parece, por assim dizer, que desde então exclamou o que depois de crescido, falando da sua Paixão, disse aos discípulos: Ah! Como sofro, enquanto não vir realizado na cruz o baptismo de sangue com que devo ser baptizado. – Mas, apesar disso, não quis nascer antes do tempo, para assemelhar-se a todos os outros mortais.

Conservou-se ali escondido, como que em recolhimento e preparação para a sua futura entrada no mundo, empregando todos aqueles momentos preciosos em oração e contemplação. – Desta sorte quis ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos frequentes vezes em nós mesmos em silêncio e recolhimento, longe dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministério. Aproveitemo-nos de tão belas lições que o divino Salvador nos dá desde de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarcas, de São José, da Santíssima Virgem e da Igreja Católica.

O Adonai… veni ad redimendum nos in brachio extento (2) – Ó Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso braço. Ó Deus, protector fortíssimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir o género humano com o vosso supremo poder! Vinde livrai-nos de tantas misérias nossas e subjugar com o vosso braço todo-poderoso os poderes das trevas, que demasiado reinaram sobre nós, e arruinaram as almas. “E Vós, ó Pai Eterno, que quisestes mediante a embaixada do Anjo, que o vosso Verbo tomasse carne no seio da Bem-aventurada Virgem Maria, dai que, venerando-a como verdadeira Mãe de Deus, possamos, pela sua intercessão, obter o vosso auxílio. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo (3).

Referências:
(1) Ex 4, 13
(2) Antif. mai. fer.
(3) Or. festi.


4º Dia – 19 de Dezembro. A Paixão de Jesus Cristo durou todo o tempo da sua vida

Sumário. Desde o instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida com seu pequenino corpo, viu diante de si todos os padecimentos que teria de sofrer para a redenção dos homens. Por isso Jesus começou desde o primeiro instante da sua vida a sofrer por nosso amor a tristeza mortal que depois padeceu no horto de Getsemani. E como temos nós correspondido a tão grande amor? Talvez com frieza e ingratidão.

I. Considera como, no mesmo instante em que foi criada a alma de Jesus e unida com o seu pequenino corpo no seio de Maria, o Pai Eterno manifestou ao seu Filho a sua vontade que morresse para a redenção do mundo. No mesmo tempo pôs-lhe diante dos olhos a vista triste de todos os sofrimentos que deveria sofrer até à morte afim de remir o género humano. Mostrou-lhe então todos os trabalhos, desprezos e pobreza que deveria suportar em toda a sua vida, tanto em Belém como no Egipto e em Nazaré. Mostrou-lhe em seguida todas as dores e ignomínias da sua Paixão: os açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos os desgostos, tristezas, agonias e abandono em que havia de terminar a sua vida no Calvário.

Quando Abraão levava o seu filho à morte, não quis contristá-lo comunicando-lhe a sorte com antecedência, nem no pouco de tempo de que precisavam para chegarem ao monte. Mas o Pai Eterno quis que o seu Filho encarnado, destinado a ser vítima da divina justiça pelos nossos pecados, sofresse já então todas as penas, às quais depois deveria submeter-se na vida e na morte – Por esta razão, desde o instante em que baixou ao seio da sua Mãe, Jesus sofreu sem interrupção a tristeza que o acabrunhou no horto, e que era suficiente para tirar-lhe a vida, assim como Ele mesmo disse: Tristis est anima mea usque ad mortem (1) – A minha alma está triste até à morte. De sorte que desde então ele sentiu vivamente e sofreu o peso todo de todos os tormentos e opróbrios que o esperavam.

Toda a vida, portanto, e todos os anos do Redentor foram vida e anos de dores e de lágrimas: Defecit in dolore vita mea, et anni mei in gemitibus (2) – A minha vida tem desfalecido com a dor, e os meus anos com os gemidos. O seu divino Coração não teve um instante livre de padecimento. – Quer vigiasse, quer dormisse, sempre tinha diante dos olhos aquela triste representação que o atormentou por todos os seus suplícios. Os mártires padeceram, mas, ajudados com a graça, padeceram com alegria e ardor: Jesus, ao contrário, padeceu sempre com o Coração cheio de desgosto e tristeza, e aceitou tudo por nosso amor.

II. Ó doce, ó amável, ó amante Coração de Jesus! É, pois, verdade que desde menino estivestes repleto de amargura, e que no seio de Maria padecestes um agonia sem consolação, sem testemunha, sem ao menos ter quem Vos aliviasse e de Vós se compadecesse. Tudo isso, ó meu Jesus, sofrestes afim de satisfazer pelas penas eternas e pela agonia sem fim que deviam ser a minha sorte no inferno por causa dos meus pecados. Padecestes privado de todo alívio, afim de me salvar a mim que tive a audácia de abandonar o meu Deus e de virar-lhe as costas para satisfazer a meus miseráveis apetites. Graças Vos dou e compadeço-me de Vós, mormente por ver que, ao passo que Vós padecestes tanto por amor dos homens, estes nem sequer de Vós se compadecem. Ó amor de Deus! Ó ingratidão dos homens! – Ó homens, ó homens, vede esse Cordeirinho inocente que está em agonia por Vós, para dar à divina justiça satisfação pelas injúrias que Vós lhe tendes feito. Vede como ele está orando e intercedendo por Vós junto do Eterno Pai: contemplai-o e amai-o.

Ah, meu redentor, quão pouco são os que pensam nas vossas dores e no vosso amor! Ó Deus! Quão poucos são os que Vos amam! Mas ai de mim! Eu também tenho vivido muitos anos esquecido de Vós! Vós tanto padecestes para ser de mim amado, e não Vos amei. Perdoai-me, ó Jesus meu, perdoai-me; quero emendar-me e amar-Vos. Desgraçado de mim, Senhor, se ainda resistisse à vossa graça, e com a minha resistência me condenasse! As grandes misericórdias de que tendes usado comigo, e especialmente a vossa doce voz que agora me chama ao vosso amor, seriam o meu maior castigo no inferno. Meu amado Jesus, tende piedade de mim, não permitais que para o futuro eu viva ingrato ao vosso amor. Dai-me luz e dai-me força para vencer tudo afim de cumprir a vossa santa vontade. Atendei-me, Vo-lo peço, pelos merecimentos da vossa Paixão. É nesta que confio, bem como na vossa intercessão, ó Maria.

Minha querida Mãe, socorrei-me; vós me impetrastes todas as graças que tenho recebido de Deus; eu vo-lo agradeço; mas se não continuardes a socorrer-me, eu continuarei a ser infiel, assim como o tenho sido nos anos passados.

Referências:
(1) Mt 26, 38
(2) Sl 30, 11


5º Dia – 20 de Dezembro. Jesus Menino oferece-se à justiça divina como nossa vitima

Sumário. Todos os sacrifícios oferecidos a Deus no correr de quarenta séculos, não foram bastante eficazes para remir o homem. Por isso, o Verbo divino, apenas feito homem, ofereceu-se a si mesmo para vítima da divina justiça, e por nosso amor aceitou a morte com todos os padecimentos que a deviam acompanhar. Fê-lo o divino Menino logo na sua primeira entrada no mundo. E nós, já chegados ao uso da razão, que temos feito por seu amor? Talvez que desde então tenhamos começado a ofendê-lo.

I. O Verbo divino, no primeiro instante em que se fez homem e criança, no seio de Maria, ofereceu-se a si mesmo, sem reserva, aos sofrimentos e à morte, para o resgate do mundo. Sabia que todos os sacrifícios de ovelhas e de bois, oferecidos antigamente a Deus, não puderam resgatar as culpas dos homens. Era preciso que uma pessoa divina pagasse em lugar dos homens o preço do resgate. Por isso disse Ele, conforme nos ensina o Apóstolo: Hostiam et oblationem noluisti (1) – Não quiseste hóstia nem oblação. Meu Pai, todas as vítimas que Vos foram oferecidas até hoje, não foram suficientes, nem puderam sê-lo, para satisfazer à vossa justiça. Vós me preparastes este corpo passível, afim de que eu possa aplacar-Vos e salvar os homens com o preço do meu sangue. Ecce venio – eis que venho. Eis-me aqui disposto a aceitar tudo e a submeter-me inteiramente à vossa vontade. – Relutava a parte inferior da alma que naturalmente tinha horror de uma vida e morte tão cheias de padecimentos e de opróbrios. Mas venceu a parte racional da alma, que, inteiramente submissa à vontade do Pai, aceitou tudo, de sorte que desde aquele instante Jesus começou a padecer todas as angústias e dores que devia sofrer nos anos da sua vida terrestre.

Foi assim que se houve Jesus desde a sua primeira entrada no mundo. Mas, ó Deus, como é que nos temos havido nós para com Jesus, desde que, chegados ao uso da razão, começamos a conhecer pela luz da fé os sagrados mistérios de nossa Redenção? Quais são os pensamentos, os projectos, os bens que foram objecto do nosso amor? Prazeres, passeios, desejos de grandeza, vinganças, sensualidades; eis os bens que nos prenderam o afecto do coração. Mas se ainda temos fé, é mister que mudemos afinal a nossa vida e os nossos afectos. Amemos um Deus que tanto tem padecido por nós.

II. Ó meu Senhor, quereis que Vos diga como me tenho havido para convosco durante a minha vida? Desde o despontar da razão comecei a desprezar a vossa graça e o vosso amor. Mas Vós o sabeis melhor do que eu mesmo; não obstante suportastes-me, porque ainda me quereis bem. Eu andava fugindo de Vós, e Vós viestes à minha procura chamando-me. Foi esse mesmo amor que Vos fez baixar do céu, afim de buscar as ovelhas perdidas, que Vos fez suportar-me e não me abandonar. Meu Jesus, agora Vós me buscais e eu Vos busco. Sinto que a vossa graça me auxilia; auxilia-me com o arrependimento dos meus pecados, que detesto mais que qualquer outro mal; auxilia-me inspirando-me um grande desejo de Vos amar e dar-Vos gosto. Sim, meu Senhor, quero amar-Vos e agradar-Vos quanto puder.

Mas o que me faz temer, é a minha fraqueza e insuficiência, consequência dos meus pecados. Maior todavia é a confiança que a vossa graça me inspira fazendo-me colocar a minha esperança nos vossos merecimentos, e dizer com toda a segurança: Omnia possum in eo qui me confortat (2) – Tudo posso naquele que me conforta. Se sou fraco, Vós me dareis força contra os inimigos; se sou enfermo, espero que o vosso sangue será o meu remédio; se sou pecador, espero que me fareis santo. Reconheço que outrora tenho cooperado para a minha perdição, porque nos perigos deixei de recorrer a Vós. Para o futuro, meu Jesus e minha Esperança, quero sempre recorrer a Vós e de Vós espero todo o auxílio, todo o bem. Amo-Vos sobre todas as cosias e não quero amar senão a Vós. Ajudai-me, Vo-lo suplico, pelo merecimento de tantos sofrimentos que desde menino suportastes por mim. Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, permiti que Vos ame. Se Vos tenho desprezado, abrandem-Vos as lágrimas de Jesus Menino que Vos roga por mim. Respice in faciem Christi tui (3) – Põe os olhos no rosto de teu Christo. Eu não mereço as graças, mas merece-as esse Filho inocente que Vos oferece uma vida de dores, afim de que useis de misericórdia comigo.

E vós, ó Mãe de misericórdia, Maria, não deixeis de interceder por mim. Sabeis quanto confio em vós, e bem sei que não desamparais quem recorre a vós.

Referências:
(1) Hb 10, 5
(2) Fl 4, 13
(3) Sl 83, 10


6º Dia – 21 de Dezembro. Dor do Jesus Menino pela previsão da ingratidão dos homens

Sumário. A ingratidão desagrada aos homens. Qual deve, pois, ter sido a tristeza de Jesus Menino, ao prever que os seus benefícios seriam pagos pelo mundo com injúrias, traições e tormentos! Mas ai de nós, que por ventura também até hoje temos respondido aos benefícios do Senhor de um modo tão desumano. Ou pelo menos temo-lo amado tão pouco, como se nenhum bem nos tivesse feito, nem sofrido coisa alguma por nós. Quereremos ser tão ingratos sempre?

I. Pelos dias do Santo Natal, São Francisco de Assis andava pelos caminhos e bosques chorando e suspirando com gemidos inconsoláveis. Perguntando pela razão de tanto sofrer respondeu:

Como não chorar, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus como que perdido de amor ao homem, e o homem tão ingrato para com esse Deus!

Ora, se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São Francisco, quanto mais não terá afligido o Coração de Jesus Cristo?

Apenas concebido no seio de Maria, Jesus viu a ingratidão despiedada que receberia da parte dos homens. Baixara do céu para acender o fogo do divino amor; somente este desejo fizera-o descer sobre a terra para ali sofrer um abismo de dores e ignomínias: Ignem veni mittere in terram (1) – Eu vim trazer o fogo à terra. E em seguida viu um abismo de pecados que os homens haviam de cometer, depois de presenciarem tantos rasgos de seu amor. Foi isso, no pensar de São Bernardino de Sena, o que o fez sofrer dores infinitas: Et ideo infinite dolebat. Mesmo para nós é insuportável vermos uma pessoa tratada por outra com ingratidão, e muita vezes isto aflige muito mais a alma, do que qualquer dor aflige o corpo. Qual não deve, pois, ter sido a dor que nossa ingratidão causou a Jesus, nosso Deus, quando viu que os seus benefícios e o seu amor lhe seriam retribuídos por nós com desgostos e injúrias? Et posuerunt adversum me mala pro bonis, et odium pro dilectione (2) – Retribuíram-me o bem com o mal, e o meu amor com ódio.

Parece que também hoje em dia Jesus Cristo se queixa: Tamquam extraneus factus sum fratribus meis (3) – Fiquei como que um estranho aos meus irmãos. Porquanto vê que de muitos não é amado, nem conhecido, como se nenhum bem lhes tivesse feito, e nada por amor deles tivesse sofrido. Ó Deus, que caso fazem também presentemente tantos cristãos do amor de Jesus Cristo?

II. Apareceu certo dia o Redentor ao Bem-aventurado Henrique Suso, sob a forma de um peregrino que andava de porta em porta, a pedir pousada, mas todos o repeliam com injúrias e ultrajes. Ai! quantos homens se parecem com aqueles de que fala Jó, dizendo: Diziam a Deus: Retira-te de nós… sendo ele quem cumulou de bens as suas casas (4). Noutro tempo nós também nos temos unido àqueles ingratos; mas quereremos continuar do mesmo modo? Não, porque não merece tal o Menino amável que baixou do céu para padecer e morrer por nós, e assim fazer-se amar de nós.

Meu amado Jesus, será verdade que Vós baixastes do céu para Vos fazerdes amar de mim, que por meu amor viestes abraçar uma vida de trabalhos e a morte de cruz, afim de que eu Vos faça um bom acolhimento no meu coração, eu que tive a audácia de Vos repelir tantas vezes de mim, dizendo: Recede a me, Domine – Afasta-te de mim, Senhor; não Vos quero? Ó meu Deus, se não fosseis a bondade infinita e não tivésseis dado a vida para me perdoardes, não me animaria a pedir-Vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis a paz: Convertimini ad me, ait Dominus, et convertar ad vos (5) – Convertei-vos a mim, diz o Senhor, e eu me converterei a vós. Vós mesmo, ó Jesus, a quem tenho ofendido, quereis ser o meu advogado: Ipse est propitiatio pro peccatis nostris (6) – Ele é a propiciação pelos nossos pecados. Não Vos quero fazer nova injúria desconfiando da vossa misericórdia. Pesa-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado, ó Bem supremo; pelo sangue que derramastes por mim, recebei-me em vossa graça.

Pater, non sum dignus vocari filius tuus (7) – Meu Pai e meu Redentor, não sou mais digno de ser vosso Filho, depois de ter renunciado tantas vezes ao vosso amor; mas fazei-me digno com os vossos merecimentos. Graças Vos dou, meu Pai, graças Vos dou e Vos amo. Ah, só a lembrança da paciência com que me tendes suportado tantos anos, e das graças que me tendes dispensado, depois de tantas injúrias que vos causei, deveria fazer-me viver sempre abrasado em vosso amor. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repulsar-Vos, vinde morar em meu pobre coração. Amo-Vos e quero amar-Vos sempre. Abrasai-me sempre mais, lembrando-me o amor que me mostrastes.

Minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me, rogai a Jesus por mim; fazei com que, no tempo de vida que ainda me resta, me mostre grato a Deus, que me amou tanto, ainda depois de eu o ter ofendido tão gravemente.

Referências:
(1) Lc 12, 49
(2) Sl 108, 5
(3) Sl 68, 9
(4) Jó 22, 17
(5) Zc 1, 3
(6) Jo 2, 2
(7) Lc 15, 21


7º Dia – 22 de Dezembro. Viagem de São José e Maria Santíssima a Belém

Sumário. Tendo Deus decretado que o seu Filho nascesse do modo mais pobre e mais penoso, numa estribaria, dispôs que César lançasse um decreto de recenseamento universal. Sabedor disso, perturbou-se São José na dúvida se levaria, ou não, Maria consigo. A Virgem, porém, animou-o, e com ele se pôs a caminho. Tomemos estes santos personagens como companheiros em nossa viagem para a eternidade.

I. Havia Deus decretado que o seu Filho nascesse, não na casa de José, senão numa gruta que servia de estrebaria, do modo mais pobre e mais penoso, por que uma criança pode nascer. Por isso dispôs que Cesar lançasse um édito por meio do qual cada um deveria alistar-se na cidade própria donde trazia a sua origem. Quando José teve conhecimento do mando, perturbou-se na dúvida se deveria deixar a Virgem Maria em casa ou levá-la consigo, visto que estava próxima a dar à luz.

“Minha esposa e senhora”, disse-lhe, “por um lado não queria deixar-vos só; por outro, se vos levo, aflige-me o triste pensamento que muito tereis de sofrer numa viagem tão longa, por um tempo tão rigoroso”.

Maria, porém, anima-o dizendo:

“José meu, não temais: eu vos acompanharei, e o Senhor nos ajudará”.

Por inspiração divina e pelo conhecimento da profecia de Miqueias, a Virgem sabia que o divino Infante devia nascer em Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados e parte com José: Ascendit autem et Ioseph… ut profiteretur cum Maria – Subiu também José para se alistar com Maria.

Consideremos aqui as devotas e santas conversões que durante a viagem faziam entre si aqueles santos esposos acerca da misericórdia, da bondade e do amor do Verbo divino, que em breve ia nascer e fazer a sua entrada no mundo, pela salvação dos homens. Consideremos os actos de louvor, de bênção, de agradecimento, de humildade e de amor que aqueles excelsos viajantes praticavam no caminho. De certo sofreu muito a santa Virgem, próxima a dar à luz, tendo de fazer uma viagem tão longa; mas suportou tudo em paz e com amor. Ofereceu a Deus todas as suas penas, unindo-as com as penas de Jesus, que trazia no seio.

Ah! Na viagem de nossa vida unamo-nos a Maria e José e acompanhemo-nos deles, e agora façamos com eles companhia ao Rei do céu, que vai nascer numa gruta. Roguemos aos santos viajantes que pelos merecimentos das penas que então padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo para a eternidade.

II. Meu caro Redentor, sei que nesta viagem Vos acompanham legiões de anjos do céu; mas quem Vos acompanha na terra? Ninguém senão José e Maria que Vos traz consigo. Permiti, ó meu Jesus, que eu também Vos acompanhe. Tenho sido um miserável ingrato, mas agora reconheço a injúria que tenho feito. Vós baixastes do Céu para fazer-Vos meu companheiro na Terra, e eu ingrato tantas vezes afastei-me de Vós pelos meus pecados. Ó meu Senhor, quando penso que tão repetidas me apartei de Vós para satisfazer os meus detestáveis apetites, renunciando assim à vossa amizade, quisera morrer de dor. Mas Vós viestes para me perdoar; perdoai-me sem demora, visto que me pesa de toda a minha alma de Vos ter abandonado e virado as costas tantas vezes. Proponho e com a vossa graça espero nunca mais Vos deixar e nunca mais me aparta de Vós, meu único amor.

A minha alma enamorou-se de Vós, ó meu amável Deus-Menino. Amo-Vos, meu doce Salvador, e já que viestes à terra para me salvar e dispensar-me as vossas graças, peço-Vos só esta graça: não permitais que em tempo algum me separe de Vós. Uni-me estreitamente convosco, prendendo-me com os doces laços de vosso santo amor. Meu Redentor e meu Deus, quem terá animo para Vos deixar, e viver sem Vós, privado da vossa santa graça.

Maria Santíssima, eis-me aqui para acompanhar-vos em vossa viagem; e vós, ó minha Mãe, não deixeis de me proteger na minha viagem para a eternidade. Assisti-me sempre, mormente quando chegar ao fim da minha vida, próximo do momento do qual dependerá, se estarei sempre convosco amando Jesus no paraíso, ou se estarei para sempre longe de vós odiando Jesus no inferno. Ó minha Rainha, salvai-me pela vossa intercessão. Seja a minha salvação amar-vos a vós e a Jesus Cristo para sempre, no tempo e na eternidade. Vós sois a minha esperança; de vós espero tudo.


8º Dia – 23 de Dezembro. José e Maria peregrinos em Belém sem abrigo

Sumário. A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a Jesus Menino, foi figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a tantas miseráveis criaturas e não a Deus. Reflictamos, porém, no que a Virgem Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu Filho nos faltasse abrigo entre os homens, afim de que as almas, cativadas pelo amor de Jesus, se oferecessem a si próprias para o acolherem.

I. Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino, que manifestações de veneração se lhe preparam! Que pompas! Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes dignamente o Rei do céu; fica sabedoria que entre todas as cidades és tu a ditosa que ele escolheu para nela nascer em terra, afim de reinar depois no coração dos homens. Ex te enim egredietur qui sit dominator in Israel (1) – De ti sairá aquele que há de reinar em Israel.

Eis que já entram em Belém esses dois excelsos viajantes, José e Maria, que traz no seio o Salvador do mundo. Entram na cidade, dirigem-se para a casa do ministro imperial, afim de pagarem o tributo e serem alistados nos registros dos súbitos do Cesar. Mas quem os reconhece? Quem lhes vai ao encontro? Quem lhes oferece agasalho? In propria venit, et sui cum non recepernunt – Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Eles são pobres, e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os outros pobres, e até repelidos.

Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora do seu parto. Avisou São José e este diligenciou de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar pouco conveniente para uma tenra donzela. Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa próxima ao parto em tempo nocturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar durante a noite no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como? Também dali foram repelidos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles: Non era eis locus in diversorio (2) – Não havia lugar para eles na estalagem. Havia ali lugar para todos, também para os mais abjectos, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se desprezados e repelidos de cada um.

II. A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão acolhimento a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam Jesus Cristo e nenhum caso fazem da sua graça e do seu amor. Maria Santíssima disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e ao meu Filho nos faltasse agasalho da parte dos homens, afim de que as almas cativadas pelo amor de Jesus se oferecessem a si próprias para o acolherem e o convidassem amorosamente a tomar morada nos seus corações.

Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graça no meu pobre coração! Eu não me animaria a pedir-Vos esta graça, se não soubesse que Vós mesmo me inspirais o pensamento de Vo-la rogar. Ó Senhor, eu sou aquele que com os meus pecados Vos tenho tantas vezes expulsado cruelmente da minha alma. Mas já que baixastes à Terra para perdoar aos pecadores arrependidos, perdoai-me, porque me pesa sobre todas as coisas de Vos ter desprezado, meu Salvador e meu Deus, que sois tão bom e me tendes tão grande amor. Nestes dias dispensais grandes graças a tantas almas; consolai também a minha. A graça que quero, é a de Vos amar para o futuro, de todo o meu coração; abrasai-me todo no vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu amor. Ah, não permitais que eu Vos deixe de amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo com as vossas súplicas; eis ai o que unicamente vos peço: rogai a Jesus por mim, e obtende-me a graça de amá-lo com todas as minhas forças, afim de desagravá-lo assim de tantas ofensas, que em outro tempo lhe tenho feito. Ó minha Mãe amantíssima, rogo-vos, exactamente pela vossa maternidade divina, tomai o meu coração e aconchegai-o ao vosso; aconchegai-o também ao de vosso divino Filho, e fazei que seja todo consumido nas belas chamas do amor a vós e a Jesus.

Referências:
(1) Mq 5, 2
(2) Lc 2, 7


9º Dia – 24 de Dezembro. A Gruta de Belém

Sumário. Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, afim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo uns pobres paninhos, para cama um pouco de palha e para colocar uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repelidos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade afim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes (viajantes) caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal deparasse-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. – Mas como? responde São José; não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e húmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? – Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus.

Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do Céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? Meu Deus, assim pergunta São Bernardo, onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu, porquanto não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto?

Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó Gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que tenra e fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!

II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo, confunde o nosso orgulho, e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.

É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso!

Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que para o futuro aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó Jesus meu, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as minas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demónio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; para o futuro não quero buscar senão a vossa vontade, e por isso Vos dou todo o meu coração. Possui-o, e possui-o para sempre, afim de que eu seja sempre vosso e todo vosso.

“E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que com confiança possa esperar a vinda do vosso Filho unigénito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador (1)”. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

Referências:
(1) Or. fer. curr.

Santo Afonso Maria de Ligório in Meditações para todos os Dias e Festas do Ano (Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa)


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sábado, 13 de dezembro de 2025

D. Athanasius Schneider fala sobre a Missa Tradicional e a igreja no Cazaquistão

D. Athanasius Schneider promove e celebra a Missa no Rito Romano, mas raramente é celebrada no Cazaquistão, disse ele a Adrian Milag. Principais pontos da entrevista:

- Não temos acólitas Cazaquistão. É proibido. Nenhuma mulher, nenhuma menina pode estar no altar.

- Não temos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão.

- A única forma de receber a Sagrada Comunhão é de joelhos e na língua, com a patena. Não há outra possibilidade, excepto para os doentes (que podem receber de pé e na boca).

- Graças a Deus, as nossas liturgias são muito dignas…mesmo no Novus Ordo.

- O povo é piedoso e devoto. Não conhece a Missa em Latim e alguns nem sequer sentem a necessidade. Se houvesse um movimento mais amplo, seria possível que quisessem. Mas até agora não temos esses grupos.

- Celebro diariamente na minha capela episcopal a Missa Tradicional, e quando ensino no seminário, também celebro para os seminaristas.

- O verdadeiro ecumenismo é que os não-católicos regressem à Igreja e abracem toda a verdade.

- O falso ecumenismo faz compromissos para agradar aos não-católicos. Isso trai a fé.

- Confio-vos a Nossa Senhora, a Co-redentora e Medianeira de todas as Graças.

in gloria.tv


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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

São Dâmaso, o primeiro Papa nascido na Lusitânia

São Dâmaso nasceu no ano 305 na Civitas Igaeditanorum, a antiga Egitânia, hoje chamada Idanha‑a‑Velha, na Beira Interior portuguesa. Era um homem de eminência e grande conhecimento das Escrituras. Em 381, convocou o Primeiro Concílio de Constantinopla, no qual se extinguiu a malvada heresia de Eunómio e Macedónio, que negava a Divindade do Espírito Santo.

Confirmou a condenação ao Sínodo de Rímini, que já tinha sido feita anteriormente pelo Papa Libério. Esse Concílio de Rímini (ano 359) foi uma victória parcial para os defensores da heresia ariana. E foi por causa deste Sínodo (no qual participaram Bispos do Ocidente) e do Sínodo de Selêucia (no qual participaram Bispos do Oriente) que São Jerónimo disse aaquela famosa frase: "O mundo gemeu e admirou-se de se ver ariano.

O Papa Dâmaso mandou construir duas Basílicas em Roma: a de São Lourenço, perto do Teatro de Pompeia, que enriqueceu com magnificência e anexou casas e fazendas; outra na via Ardeatina, sobre as Catacumbas. Também consagrou a Platónia, onde os corpos de São Pedro e São Paulo jazeram durante algum tempo, e decorou-a com elegantes inscrições poéticas compostas por ele. Escreveu a respeito da virgindade, tanto em verso quanto em prosa, e também muitos outros poemas sobre vários temas.

Estabeleceu que os falsos acusadores fossem punidos pelas ofensas que haviam falsamente levado a processo contra o próximo. Estabeleceu o costume, que já existia em muitas igrejas, de cantar os Salmos, tanto de dia quanto à noite, em coros alternados, e de ajuntar ao final de cada Salmo as palavras "Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo".

Foi por sua ordem que São Jerónimo reviu a tradução do Novo Testamento de acordo com o texto grego. Governou a Igreja durante 17 anos, 2 meses e vinte e 6 dias. Por 5 vezes, no Advento, fez ordenações de: 31 Sacerdotes, 11 Diáconos e 62 Bispos.

Por fim, adormeceu no Senhor, durante o reinado do Imperador Teodósio, com quase 80 anos de idade. Foi enterrado ao lado da sua mãe e irmã, na igreja que ele mesmo mandar construir na Via Ardeatina. As suas relíquias foram depois levadas para a Basílica de São Lourenço, que por isso é chamada "San Lorenzo in Damaso".


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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Há 100 anos Nossa Senhora pediu à Irmã Lúcia a devoção dos primeiros Sábados

Há 100 anos, a 10 de Dezembro de 1925, Nossa Senhora apareceu à Irmã Lúcia em Pontevedra. A vidente tinha então 18 anos e vivia de maneira oculta, sob o nome de Maria das Dores, como postulante da Congregação de Santa Doroteia. Eis a aparição descrita pelas palavras da própria Irmã Lúcia:

«Em 10 de Dezembro de 1925, a Santíssima Virgem apareceu, tendo junto a Ela, levado por uma nuvem luminosa, o Menino Jesus. A Santíssima Virgem pôs a mão no seu ombro e mostrou, ao mesmo tempo, um Coração rodeado de espinhos que Ela segurava na outra mão. Nesse mesmo momento, o Menino disse: 

"Tem compaixão do Coração da tua Santíssima Mãe, coberto de espinhos com que homens ingratos O trespassam a todo o momento, sem que haja alguém que faça um acto de reparação para os tirar."

Então a Santíssima Virgem disse: "Olha, Minha filha, o Meu Coração, rodeado de espinhos com que homens ingratos O trespassam a todo o momento pelas suas blasfémias e ingratidões. Ao menos tu faz por Me consolar e anunciar em Meu nome que prometo assistir na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação, a todos aqueles que, no primeiro Sábado de cinco meses seguidos, recebam o sacramento da Confissão, recebam a Sagrada Comunhão, rezem cinco dezenas do Rosário, e Me façam companhia durante quinze minutos, enquanto meditam nos quinze mistérios do Rosário, com a intenção de fazerem reparação ao Meu Imaculado Coração."»

Resumindo, as condições para ganhar o privilégio dos 5 primeiros Sábados são

1 - Confissão. Pode ser feita uma semana antes ou depois do primeiro Sábado, contanto que se esteja em estado de graça (sem pecados mortais) no momento da comunhão reparadora;
2 - A Comunhão reparadora na Missa do primeiro Sábado.
3 - Rezar o terço nesse dia.
4 - Meditação durante 15 minutos os 15 mistérios do Rosário nesse dia.
Em todas estas quatro práticas, deve estar presente a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.


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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

França: 120 anos da Lei de Separação entre Igreja e Estado condenada por São Pio X

A 9 de Dezembro de 1905, o parlamento da França maçónica aprovou a lei de separação entre o Estado e a Igreja Católica, de autoria do deputado socialista e maçom Aristide Briand. 

Um mês depois que a lei entrou em vigor, o Papa São Pio X escreveu a Encíclica ''Vehementer Nos'', condenando o princípio da separação entre a Igreja e o Estado, o laicismo, e, especificamente, repudiando contundentemente o verdadeiro crime perpetrado contra a França, com a separação.

Pio X proscreve a tese da separação entre o Estado e a Igreja com uma convicção tão férrea, uma repulsa tão violenta, e apresentando as mais graves razões, que deixam claro por que um católico não deve, de maneira nenhuma, defender este princípio apóstata e diabólico, que arruína os Estados e nações, faz perder as almas e ofende gravemente a Deus:

«Por último, há um outro ponto sobre o qual não podemos ficar em silêncio. Além dos interesses da Igreja que ela fere, a nova lei será também das mais funestas para o vosso país. Efectivamente, não há nenhuma dúvida de que ela arruíne lamentavelmente a união e a concórdia das almas. E, no entanto, sem essa união e sem essa concórdia nenhuma nação pode viver ou prosperar. 

Eis aí porque, sobretudo na presente situação da Europa, essa harmonia perfeita forma o voto mais ardente de todos aqueles que, na França, amando verdadeiramente o seu país, ainda têm a peito a salvação da sua pátria. Quanto a Nós, a exemplo do Nosso Predecessor, e herdeiro da sua predileção toda particular pela vossa nação, sem dúvida nos havemos esforçado por manter a religião de vossos avós na posse integral de todos os seus direitos entre vós; porém, ao mesmo tempo e sempre tendo diante dos olhos essa paz fraternal cujo vínculo mais estreito é certamente a religião, temos trabalhado para vos consolidar a todos na união. 

Por isto, não podemos, sem a mais viva angústia, ver que o Governo francês acaba de praticar um ato que, atiçando no terreno religioso paixões já excitadas de maneira sobejamente funesta, parece de molde a transtornar completamente o vosso país. É por isto que, lembrando-nos do Nosso múnus apostólico, e cônscio do imperioso dever que Nos incumbe de defender contra todo o ataque e de manter na sua integridade absoluta os direitos invioláveis e sagrados da Igreja, em virtude da autoridade suprema que Deus Nos conferiu, pelos motivos acima expostos Nós reprovamos e condenamos a lei votada na França sobre a separação entre a Igreja e o Estado, como uma lei profundamente injuriosa para com Deus, a quem renega oficialmente, erigindo em princípio não reconhecer a República nenhum culto

Reprovamo-la e condenamo-la como violando o direito natural, o direito das gentes e a fidelidade pública devida aos tratados; como contrária à constituição divina da Igreja, aos seus direitos essenciais e à sua liberdade; como postergando a justiça e calcando aos pés os direitos de propriedade que a Igreja adquiriu a títulos múltiplos e, ademais, em virtude da Concordata. Reprovamo-la e condenamo-la como gravemente ofensiva para a dignidade desta Sé Apostólica, para a Nossa Pessoa, para o Episcopado, para o clero e para todos os católicos franceses.''

Papa São Pio X in Encíclica 'Vehementer Nos' (11/II/1906)


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sábado, 6 de dezembro de 2025

A revolução é progressiva




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Vigiar no princípio da tentação

Devemos vigiar, principalmente, no princípio da tentação; porque mais fácil será vencer o inimigo se não o deixarmos entrar na alma, enfrentando-o logo que bater no limiar.

Primeiro ocorre à mente um simples pensamento, donde nasce a importuna imaginação, depois o deleite, o movimento; e assim, pouco a pouco, entra de todo na alma o malvado inimigo, porque se lhe não resistiu a princípio. E quanto mais alguém for indolente em lhe resistir, tanto mais fraco se tomará cada dia e mais forte o seu adversário.

in Imitação de Cristo


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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Acto de petição para rezar depois de comungar

Senhor Jesus, vós conheceis a minha fraqueza e as necessidades da minha alma: concedei-me a graça de me tornar melhor. Socorrei a vossa santa Igreja. Abençoai os meus pais, superiores, amigos e inimigos, e dai-nos a todos a graça de estar reunidos um dia no Céu.


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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Festa de São Francisco Xavier, Apóstolo do Oriente

Esta é a capela de S. Francisco Xavier, na Chiesa del Gesù, a principal igreja da Companhia de Jesus em Roma.

Dentro do relicário de prata está o braço direito de S. Francisco (o resto do corpo está em Goa). Foi com esse braço que o santo missionário baptizou milhares e milhares de pessoas, tal como ele próprio descreve nesta carta escrita na Índia:

“Em relação aos números dos que se tornaram cristãos talvez se perceba melhor se contar isto: acontece frequentemente que me é muito difícil usar as mãos por causa do cansaço de baptizar. Muitas vezes, num único dia, baptizei populações inteiras. Por vezes fiquei sem voz e sem forças por repetir vezes e vezes sem conta o Credo e o resto da liturgia.”

Por aqui se vê a importância que a Igreja e os santos sempre deram ao baptismo. É uma pena, e um perigo, que hoje em dia seja tão desprezado.



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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

sábado, 29 de novembro de 2025

12 notáveis privilégios de Maria Santíssima

Uma alma verdadeiramente católica deve exultar ao tomar conhecimento de dons especialíssimos concedidos por Deus a nossa Mãe celeste.

Um dos temas que mais atrai a ira dos protestantes é a devoção devida a Nossa Senhora. Incompreensões e calúnias de todo género circulam a esse propósito.

Discutindo com protestantes, acabei por constatar que, na raiz dessa posição, está sempre presente o orgulho. E este vício manifesta-se num ponto fundamental: o igualitarismo. Para uma pessoa orgulhosa, tudo aquilo que o outro possui, e ele não, é considerado um rebaixamento. Segundo tal mentalidade, para se evitar isso dever-se-iam suprimir todas as desigualdades. Aceitar-se-ia, quando muito, Deus como único ser diferente, mas nada de santos e criaturas privilegiadas.

Essa é uma mentalidade anti-católica. Para uma pessoa de mentalidade católica, o facto de outro possuir algo que ela não tem não representa uma afronta, não constitui uma agressão. Mas, pelo contrário, sentimo-nos felizes reconhecendo e amando a hierarquia estabelecida por Deus.

Arquitectura da Criação

Dito isto, compreende-se que um católico, quanto mais conheça privilégios de Nossa Senhora, sinta-se especialmente comprazido. E, realmente, Deus Nosso Senhor cumulou-A com uma série de privilégios altíssimos. O que é perfeitamente arquitectónico no plano da criação.

O primeiro privilégio, do qual decorrem muitos outros, é a Imaculada Conceição, mediante a qual Nossa Senhora foi preservada do pecado original. Convinha que a Mãe de Deus fosse isenta de qualquer mancha de pecado.

Desse privilégio decorre a ausência da inclinação para praticar o mal. A Mãe de Deus não experimentava nenhuma das más inclinações que podem levar ao pecado, e, graças à sua fidelidade, não cometeu a mínima imperfeição.

Igualmente — e este é o terceiro privilégio — Nossa Senhora teve um parto miraculoso e sem dor. Quando Adão e Eva pecaram, Deus disse a Eva: “Darás à luz com dor os filhos” (Gen 3, 16). Sendo Nossa Senhora isenta do pecado original, compreende-se que o parto d'Ela não pagasse tributo à dor. O que é explicável, pois não convinha que a vinda do Salvador — alegria do Universo — ocorresse em meio à dor, mas sim numa atmosfera de júbilo.

Um quinto privilégio: o seu corpo não se corrompeu no túmulo. A perda da vida acarreta a destruição da matéria, mas no caso d'Ela a morte não teve poder sobre a matéria. Nada se alterou, nada se perdeu. Por isso a sua morte é comparada ao sono, à Dormição. 

O quarto privilégio foi a sua santa morte. A morte é fruto do pecado original. Disse Deus a Adão: “Tu és pó e em pó te hás de tornar” (Gen 3, 19). Como a Virgem Santíssima foi concebida sem pecado original, não havia razão para Ela morrer. Poderia ir directamente para o Céu, sem passar pela morte. Entretanto, Nossa Senhora desejou não ficar isenta dessa provação, pela qual até seu Divino Filho tinha passado. Por isso faleceu, mas de morte tão suave que, na linguagem católica, fala-se em Dormição da Beatíssima Virgem Maria. A sua morte não foi causada por doença ou velhice. Dominava-a tal amor de Deus, que Ela morreu mais propriamente devido a esse amor.

Obra-prima da Criação

Um sexto privilégio é a plenitude das graças recebidas. Deus é grandioso, generoso, porquanto cria sem nenhuma necessidade de criar, fazendo-o porque assim o quer. E, ao criar, Deus decidiu que ao menos uma mera criatura recebesse tudo o que é possível a um ente criado receber. Assim, recebeu Ela já no primeiro instante do seu ser todas as graças possíveis.

Então, manifesta-se um sétimo privilégio. Em tese, seria possível Ela a receber e rejeitar. Mas Nossa Senhora foi inteiramente fiel à graça, que A preservou de toda imperfeição.

Um oitavo privilégio foi a maternidade divina. Deus é a Sabedoria, e tudo o que faz decorre de uma razão altíssima. Qual seria o sentido de existir uma criatura a mais perfeita possível, isenta do pecado original e cheia de graça, e não lhe tocar uma vocação superior? Seria como uma obra de arte que não fosse exposta ao público e permanecesse fechada num cofre. Nossa Senhora é a obra-prima da criação, sendo lógico, portanto, que recebesse uma vocação proporcional à sua especialíssima situação. E que vocação pode haver mais alta do que a de ser Mãe de Deus?

Maternidade e virgindade

Tratemos de um nono privilégio. Deus quis que a Sua Mãe fosse Virgem. Por quê? Não é regra comum da vida que maternidade e virgindade sejam incompatíveis? A virgindade não é apenas algo físico, mas corresponde também a um estado de alma. Quis Deus que as mães votem um amor especial, do ponto de vista natural, pelos seres que geraram. Mas para Nossa Senhora Ele almejava mais. Ela devia ser dotada de todo o amor possível de Mãe, mas concomitantemente, de todo o desapego das coisas do mundo que a virgindade produz nas almas. E, Nossa Senhora, a mais perfeita das mães, devia ter alma de Virgem, a fim de fazer o mais perfeito sacrifício possível e praticar o supremo desapego: entregar seu próprio Filho para ser imolado, com vista a redimir nossos pecados.

Um décimo privilégio de Nossa Senhora: Assunção aos Céus, em corpo e alma. Compreende-se igualmente que, segundo o plano divino, um ser tão perfeito deveria receber um prémio perfeito. Em contraste com os outros seres mortais, Ela está no Céu em corpo e alma.

Dispensadora das graças

Tendo-a chamado a Si, de forma tão privilegiada, compreende-se que Deus A tenha coroado como Rainha do Céu e da Terra. Este é o décimo-primeiro privilégio.

Finalmente, o décimo-segundo: a omnipotência que Jesus Cristo lhe concedeu, estabelecendo-A como dispensadora de todas as graças. Tal privilégio, altíssimo sem dúvida alguma, é também um extraordinário prémio para todos nós. Afinal, quem se beneficia dele? Nossa Senhora recebe todas as graças para as distribuir aos outros. Ela é a dispensadora, Aquela que entrega.

Voltamos ao início do artigo. Poderia alguém, com espírito de fé, lamentar tais privilégios? Posso eu sentir-me diminuído pelo facto de ser Ela a dispensadora de todas as graças? Como não ficar jubiloso ao saber que tão perfeita Mãe dispõe do poder de espargir entre os seus filhos as graças divinas? Peçamos então o poderoso auxílio d'Ela. E rezemos pela conversão daqueles a quem o orgulho cega, não querendo entender a beleza de uma Mãe tão cheia de privilégios, que a todos eleva.

Valdis Grinsteins in catolicismo.com.br


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